Por Altamiro Borges
Saudosos da ditadura, os presidentes do Clube Militar, Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Naval, Ricardo Antonio da Veiga Cabral, e do Clube da Aeronáutica, Ivan Moacyr Frota, divulgaram ontem, 31 de março, uma nota com duros ataques à Comissão da Verdade. O texto cita importantes momentos das Forças Armadas na história do Brasil para, de forma oportunista, elogiar a conduta dos generais no golpe de 1964. A nota é provocadora e mereceria uma resposta à altura do Palácio do Planalto.
Os “milicos de pijama”, como são apelidados estes oficiais da reserva, justificam a deposição ilegal de João Goulart, presidente eleito democraticamente pelos brasileiros, como fruto da pressão da sociedade. Numa visão distorcida da histórica, na quais são escondidas as orquestrações dos EUA e das elites empresariais, o documento afirma que o povo “apelou e levou as Forças Armadas à intervenção, em março de 1964, num governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem”.
A nota também justifica os anos de chumbo da ditadura militar - com suas prisões, torturas, assassinatos, desaparecidos, fechamento do Congresso Nacional, censura aos jornalistas e ataques ao sindicalismo. “Das consequências dessa intervenção, em benefício da nação brasileira, que é eterna, há evidências em todos os setores: econômico, comunicações, transportes, social, político, além de outros que a História registra e que somente o passar do tempo poderá refinar ou ampliar, como sempre acontece”.
O documento dos saudosos da ditadura, porém, não tem como objetivo reescrever a história. Seu intento é muito mais direto e atual. Ele visa desqualificar as investigações realizadas pelos integrantes da Comissão da Verdade. Na ótica destes eternos golpistas, nada deve ser feito para apurar os crimes da ditadura. “Que não venham, agora, os democratas arrivistas, arautos da mentira, pretender dar lições de democracia. Disfarçados de democratas, continuam a ser os totalitários de sempre”, desafia a nota.
“Ao arrepio da Lei que criou a chamada ‘Comissão da Verdade’, os titulares designados para compô-la, por meio de uma resolução administrativa interna, alteraram a Lei em questão limitando sua atividade à investigação apenas de atos praticados pelos Agentes do Estado, varrendo ‘para debaixo do tapete’ os crimes hediondos praticados pelos militantes da sua própria ideologia”. Ao final, a nota provocadora ainda “rende homenagens para aqueles cuja memória ora se tenta apagar da nossa história”.
O texto dos presidentes dos clubes militar, naval e da aeronáutica só não teve a coragem de citar o nome dos torturadores e dos “agentes do Estado” que cometeram alguns dos piores crimes da nossa história.
NOVA VIA
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