9 de abr. de 2013

VEJA E ÉPOCA TROCARIAM DILMA POR MARGARET


Na Inglaterra, o legado da dama de ferro Margaret Thatcher é objeto de grande controvérsia; para muitos analistas, ela, que foi a favor até do apartheid na África do Sul, é vista como a mãe da desigualdade social; no entanto, Veja listou diversas lições que a presidente Dilma deveria aprender com Thatcher; Época afirmou que a bandeira brasileira deveria ser hasteada a meio pau; aqui ela tem mais seguidores do que em seu país natal...

Por incrível que pareça, Margaret Thatcher tem mais seguidores no Brasil do que na Inglaterra. Se  em Londres há até festas programadas para celebrar sua passagem e diversos analistas apontam um legado ambíguo deixado pela dama de ferro, que deflagrou a Guerra nas Malvinas, promoveu políticas que geraram desigualdade social e apoiou a segregação racial na África do Sul (enquanto seu filho fazia negócios com o regime do apartheid), por aqui ela é celebrada na imprensa conservadora.
Veja, por exemplo, lista diversas lições que Dilma deveria aprender com Thatcher. Leia abaixo:
A presidente Dilma Rousseff e a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher - que morreu nesta segunda-feira, em Londres - chegaram ao poder lançando mão de algumas características similares: ambas foram, a seu tempo, implacáveis, centralizadoras e intransigentes. Não assumiram o governo de seus países graças ao carisma ou simpatia - e tampouco pilotaram seus gabinetes de forma pacífica e bem-humorada. Contudo, as semelhanças param por aí. Enquanto a presidente brasileira poderia utilizar seu pulso firme para implementar reformas dolorosas, como fez Thatcher na Grã-Bretanha, Dilma vem aplicando sua intransigência na direção oposta: por meio da política fiscal frouxa, da negligência em relação à inflação e do intervencionismo do estado. 
A Grã-Bretanha que acolheu Thatcher em seu primeiro mandato no Parlamento, em 1979, era bem diferente do Brasil de hoje. O estado britânico funcionava como um mastodonte burocrático, neutralizado por décadas de ineficiência, pelo protecionismo implementados no pós-guerra e com o estado controlando inúmeras empresas. Apesar de, em muitos casos, o Brasil se enquadrar nesta descrição, o país encontra-se numa posição mais dinâmica devido aos avanços regulatórios e à abertura de mercado ocorridos na década de 1990. No país europeu, a influência de governos de viés socialista ainda castigava o setor privado nos idos de 1970. Empresas eram obrigadas a manter muitos de seus funcionários em regime de férias coletivas devido à impossibilidade de fazer demissões. Ainda assim, o país vivia em greve constante devido à força política dos sindicatos. As grandes fortunas eram tributadas em 83% pelo estado e a poupança do cidadão comum, em 33%. O imposto sobre ganho de capital chegava a 98%. A taxa de desemprego beirava os 10% e a inflação anual ultrapassava 20%.
Thatcher era avessa a políticas caridosas que deixassem a população escrava das benfeitorias do estado - ao contrário de programas assistencialistas, como o Bolsa Família. Ela mesma nasceu em família humilde e teve de submeter-se a inúmeros sacrifícios para não perpetuar a vida de pobreza na qual foi criada. Quando chegou ao poder, 30% das moradias do país (o equivalente a 1,5 milhão de casas) eram do estado. Uma de suas primeiras mudanças foi estimular a população a adquirir as residências. Segundo ela, o controle estatal deveria se restringir à saúde e à segurança pública - e a economia deveria ser regida pelos preceitos do livre-mercado. "Governos não criam riqueza. Quem faz isso são as indústrias e os serviços. É o povo com sua própria bagagem e sua própria capacidade de iniciativa", disse em entrevista à VEJA, em março de 1994. Na Grã-Bretanha pré-Thatcher, o intervencionismo do estado chegava ao ponto de qualquer aumento de preços necessitar de autorização prévia do Ministério das Finanças - modelo que, ironicamente, parece servir de inspiração para a política de retrocesso que vem sendo implementada na Argentina pelo governo de Cristina Kirchner.
Diante da conjuntura desfavorável, a primeira-ministra recém-empossada poderia utilizar inúmeras ferramentas políticas para garantir popularidade e continuidade do Partido Conservador no comando do Parlamento - e, acima de tudo, firmar sua própria posição no seio do Partido, já que ela mesma era alvo de intenso fogo amigo. Mas Thatcher optou pelo caminho mais tortuoso e impopular por acreditar que era a única solução para tirar a Grã-Bretanha, em definitivo, da crise financeira que a assolava.
Ela enfrentou a inflação com pulso de ferro valendo-se da teoria econômica neoclássica: aumento de juros e corte de gastos públicos. Reduziu o tamanho do estado por meio de cortes sistemáticos de subsídios e eliminação dos controles de preços. Reduziu gastos em todos os programas governamentais, exceto a polícia, a defesa e o sistema de saúde. Diminuiu as alíquotas de imposto sobre fortunas e ganhos de capital, mas, para equilibrar a perda de arrecadação, aumentou os impostos no setor de serviços, que era o único respiro da economia britânica. 
Em 1981, os efeitos de curto prazo de tal política foram devastadores. O consumo despencou, o desemprego havia aumentado para 12%, o investimento privado caiu 11% e a inflação teimava em subir. O cenário econômico somado ao descontentamento da população fizeram dos primeiros dois anos do governo Thatcher o período mais impopular de sua gestão. No início de 1981, apenas 25% da população aprovava a gestão da Dama de Ferro - e os próprios conservadores duvidavam que Thatcher pudesse aguentar a pressão. O autor norte-americano Richard Aldous conta, na obra Thatcher e Reagan, uma Relação Difícil (Editora Record), que 364 economistas das principais universidades britânicas chegaram a enviar uma carta ao governo condenando as medidas econômicas adotadas pela premiê. No Brasil, ao final do segundo ano de mandato, a economia sob a gestão de Dilma patina, mas a popularidade continua em alta, com a aprovação de seu governo por mais de 60% da população.
Contudo, a partir de 1982, os efeitos recessivos cederam, a inflação recuou para 8,6% e a economia voltou a crescer. A partir de então, o governo levou a cabo um extenso programa de privatização, em que empresas como a Jaguar e a British Petroleum (BP) foram adquiridas por investidores privados. Thatcher optou por não privatizar a saúde pública, mas implementou técnicas de gestão para torná-la mais eficiente. Em 1987, a inflação havia baixado para 4% ao ano e a economia crescia 5%. O desemprego em queda e o aumento dos salários de forma sustentável evidenciavam a recuperação econômica.
Thatcher ficou no poder de 1979 a 1990, tempo mais do que suficiente para os princípios que defendia (menos governo, menos despesas e independência em relação à União Europeia) se fixassem profundamente no modo de vida britânico - perdurando até os dias de hoje. Isso não significa, contudo, que a ex-premiê fosse unanimidade: foi derrubada do poder em 1990, quando seu próprio partido se voltou contra ela. O gatilho da crise interna do Partido Conservador que levou Thatcher a perder o posto foi sua recusa tenaz em integrar a Grã-Bretanha à zona do euro, prevendo que esta seria uma babel dominada pela Alemanha e sacudida por crises econômicas. Os 22 anos desde então só confirmam seu vaticínio.
O Brasil, por sua vez, dispõe de armas muito mais afiadas para combater males econômicos, pois está longe de viver a recessão que assolava a Grã-Bretanha no momento em que Thatcher assumiu o poder. Porém, é comandado pelas ideias erradas. O mercado interno aquecido, o endividamento público estável e a confiança dos investidores que permanecem no país apesar do intervencionismo petista seriam ferramentas suficientes para que a presidente pudesse implementar medidas impopulares, mas certeiras, como uma verdadeira reforma tributária - e não a colcha de retalhos que vem sendo tecida nos últimos meses, em que impostos de determinados setores sobem, e outros são reduzidos, criando insegurança jurídica para investidores. Em vez de abrir a economia para a concorrência externa como forma de estimular os investimentos privados e a produtividade, vê-se o oposto: protecionismo a setores escolhidos a dedo, como o automotivo, em troca da manutenção do emprego. Medidas impopulares são vetadas, pois atrapalham propósitos eleitoreiros. Dilma é Thatcher às avessas - pior para o Brasil.
E Época defende que a bandeira brasileira seja hasteada a meio pau. Confira:
Os jornalistas, a morte de Lady Thatcher e o luto dos liberais
A dama de ferro nunca teve grande prestígio nas redações, mas, por sua obra, mereceria uma demostração explícita de reverência
JOSÉ FUCS
Presto aqui meu (modesto) tributo a Margaret Thatcher. Hoje de manhã, no início da reunião semanal de pauta de Época, sugeri que fosse observado um minuto de silêncio em homenagem a Lady Thatcher. Deram risada, e a reunião seguiu em frente. Eu mesmo, provavelmente, fiz a proposta mais como uma provocação aos colegas, que conhecem a minha admiração pela dama de ferro e por sua obra. Entre eles, ela não goza de muito prestígio, mas bem que mereceria uma demonstração explícita de reverência.
A morte de Thatcher, aos 87 anos, depois de uma longa agonia vivida por conta de uma doença degenerativa, deveria ser marcada por um período de luto oficial no país. Se a presidente Dilma decretou luto oficial de três dias quando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez morreu, há um mês, por que o mesmo não deve valer para Lady Thatcher, cujo papel histórico foi muito mais relevante que o do caudilho Chávez? Se Chávez mereceu três dias, talvez, no caso Thatcher, a bandeira brasileira devesse ficar uma semana a meio pau. Ou um mês, quem sabe – se é que o número de dias de luto guarda alguma relação com a importância do falecido (ou da falecida).
Nos anos 1980, quando a Inglaterra havia se tornado refém do ativismo sindical, abalada por greves intermináveis que paralisavam o país, Thatcher enfrentou as barricadas erguidas nas ruas pelos sindicatos. Até os seus pares do Partido Conservador temiam o impacto eleitoral negativo que sua brava atitude poderia provocar. Depois de fechar minas de carvão obsoletas e improdutivas e promover a privatização de serviços públicos, ela colocou o Reino Unido de volta na trilha do capitalismo e da livre iniciativa. Devolveu o país aos dias prósperos que haviam marcado boa parte de sua história. Junto com o ex-presidente americano Ronald Reagan, ressuscitou os ideais do liberalismo mundo afora, que andavam meio por baixo naqueles tempos de Guerra Fria, em que properavam no Ocidente o movimento dos não-alinhados e a social democracia.
Por sua determinação, realizações e por sua contribuição para a causa da liberdade, a morte de Lady Thatcher é irreparável. Suas ideias, porém, não têm data de validade. Ironicamente, Thatcher se foi numa fase de crescente intervenção do Estado na economia global e de aumento de gastos públicos financiados pela viúva em quase todo o planeta, duas políticas contra as quais ela lutou bravamente quando estava no poder. O consolo é que, provavelmente, Lady Thatcher vai rir à toa lá do céu quando chegar a conta dessa farra toda.

A NOVA  VIA
- com 247

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